O “II Encontro
Internacional de Estudos Sobre A América Latina – 20 Anos de MERCOSUL: balanços
e perspectivas” teve seu encerramento nesta manhã de sábado, 05 de novembro, com
palestra e lançamento do livro “Crítica
à Razão Acadêmica”, organizado pelo professor Nildo Ouriques e Waldir
Rampinelli. O encontro ocorreu no Auditório da Biblioteca Central Zila Mamede
(BCZM/UFRN). O professor Ouriques falou por cerca de três horas entre palestra
e dois blocos de debates (coordenados pelo professor Gabriel Vitullo, do Departamento
de Ciências Sociais, UFRN) ao auditório lotado (alguns ouvintes tiveram de
assistir toda a palestra em pé e outros sentados ao chão), para um público
formado majoritariamente de estudantes de diversos cursos e diferentes
instituições, alguns professores da UFRN e também representações de partidos e
outras organizações.
O livro surge na oportunidade
do 50º aniversário da Universidade Federal de Santa Catarina. Ouriques e
Rampinelli, organizadores da obra, vêem então a necessidade de se pensar
criticamente a universidade brasileira: o que é a universidade? A universidade
é a casa do saber? Existe crítica (além da marginalidade) na universidade?
Ouriques fala que as
primeiras características comuns diagnosticadas foram a ‘nobreza’ e a ‘imitação
da prática estrangeira’.
Por imitar os
modelos da prática norte-america e européias, as universidades brasileiras
acabam por criar uma divisão burguesa do conhecimento, consequência da divisão
social do trabalho, provocando uma excessiva especialização do conhecimento e
conferindo aos docentes universitários um gangsterismo travestido de
respeitabilidade, seguidores de modismos intelectuais nas linhas de pesquisas
em pós-graduações, que por sua vez provocam
o desprestígio do ensino de graduação. Cultura repassada de professor a alunos,
que criam mesmo uma relação de “Clientela – Vassalagem”, produzindo
conhecimentos voltados para si mesma e de pouca (até mesmo nenhuma) utilidade
ou contribuição para a sociedade. Aqui, provoca: poderia a universidade dar
mais retornos à sociedade?
A crítica seguinte
cai sobre os métodos avaliativos que rompem os nexos com o social, criando uma
burocracia especialista em controle e disciplina, e produção científica
desvalorizada (uma riquíssima produção em “não há nada novo a dizer”, mas é
preciso publicar). Seguindo à risca ‘o sistema de produção mundial do
conhecimento’, fortemente representado pela CAPES, no Brasil, que na prática de
seu big business desqualifica a
revista científica nacional ao prestígio das publicações estrangeiras daquela
mesma pós-graduação modista, colonizada. A ciência brasileira se torna
prestação de serviço às grandes empresas.
Para que serve então
a universidade brasileira?
O ensino não está em
contato com a realidade. O pensamento crítico não está disponível à
universidade brasileira, que vive submissa ao império da mediocridade, que não
exerce a liberdade cátedra, tampouco sua autonomia, e não transformará a
sociedade enquanto não tiver como ambição intelectual “vencer o conformismo”.
(*Palestra
concedida por Nildo Ouriques, professor da UFSC)