sábado, 5 de novembro de 2011

O Papel da Universidade na América Latina Contemporânea*


O “II Encontro Internacional de Estudos Sobre A América Latina – 20 Anos de MERCOSUL: balanços e perspectivas” teve seu encerramento nesta manhã de sábado, 05 de novembro, com palestra e lançamento do livro “Crítica à Razão Acadêmica”, organizado pelo professor Nildo Ouriques e Waldir Rampinelli. O encontro ocorreu no Auditório da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM/UFRN). O professor Ouriques falou por cerca de três horas entre palestra e dois blocos de debates (coordenados pelo professor Gabriel Vitullo, do Departamento de Ciências Sociais, UFRN) ao auditório lotado (alguns ouvintes tiveram de assistir toda a palestra em pé e outros sentados ao chão), para um público formado majoritariamente de estudantes de diversos cursos e diferentes instituições, alguns professores da UFRN e também representações de partidos e outras organizações.

O livro surge na oportunidade do 50º aniversário da Universidade Federal de Santa Catarina. Ouriques e Rampinelli, organizadores da obra, vêem então a necessidade de se pensar criticamente a universidade brasileira: o que é a universidade? A universidade é a casa do saber? Existe crítica (além da marginalidade) na universidade?

Ouriques fala que as primeiras características comuns diagnosticadas foram a ‘nobreza’ e a ‘imitação da prática estrangeira’.

Por imitar os modelos da prática norte-america e européias, as universidades brasileiras acabam por criar uma divisão burguesa do conhecimento, consequência da divisão social do trabalho, provocando uma excessiva especialização do conhecimento e conferindo aos docentes universitários um gangsterismo travestido de respeitabilidade, seguidores de modismos intelectuais nas linhas de pesquisas em pós-graduações, que por sua vez  provocam o desprestígio do ensino de graduação. Cultura repassada de professor a alunos, que criam mesmo uma relação de “Clientela – Vassalagem”, produzindo conhecimentos voltados para si mesma e de pouca (até mesmo nenhuma) utilidade ou contribuição para a sociedade. Aqui, provoca: poderia a universidade dar mais retornos à sociedade?

A crítica seguinte cai sobre os métodos avaliativos que rompem os nexos com o social, criando uma burocracia especialista em controle e disciplina, e produção científica desvalorizada (uma riquíssima produção em “não há nada novo a dizer”, mas é preciso publicar). Seguindo à risca ‘o sistema de produção mundial do conhecimento’, fortemente representado pela CAPES, no Brasil, que na prática de seu big business desqualifica a revista científica nacional ao prestígio das publicações estrangeiras daquela mesma pós-graduação modista, colonizada. A ciência brasileira se torna prestação de serviço às grandes empresas.

Para que serve então a universidade brasileira?

O ensino não está em contato com a realidade. O pensamento crítico não está disponível à universidade brasileira, que vive submissa ao império da mediocridade, que não exerce a liberdade cátedra, tampouco sua autonomia, e não transformará a sociedade enquanto não tiver como ambição intelectual “vencer o conformismo”.

(*Palestra concedida por Nildo Ouriques, professor da UFSC)